Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

4 de dezembro de 2014

Simplicidade

imagem da internet



  Ela varria, descontraída. Na casa da fazenda quase todos ainda dormiam.  Neste momento passava tanta coisa por sua cabeça...
Sarah tinha agora catorze  anos.  Ali , era o  seu local de trabalho, onde ajudava a mãe nos seus afazeres e eram muito queridas pelos patrões.  Não tinha muito contato com a vida da cidade nem com as meninas de sua idade, a não ser quando ia à escola.  A casa muito grande,  consumia várias horas do seu dia nas tarefas  leves, mas constantes. Mesmo assim era o  lugar onde  costumava construir  seus sonhos, rodeada por muita beleza ,  desde a decoração luxuosa  do interior do casarão aos  jardins externos, tudo   muito  bem cuidado e  como agora, sonhava, varrendo os pedaços de papéis espalhados por todo o piso. Eram também fitinhas encaracoladas como seus cabelos, caixas  e caixas enfeitadas.  Detalhes da festa de aniversário da filha de sua patroa na noite anterior, no melhor clube da cidade.

Se os simples pedaços de papéis dourados, prateados e estampados com flores, já lhe encantavam quanto mais não a encantariam os presentes!

 Praticamente dançava com a vassoura, rodopiando e até cantando. Seria ela a princesa e a vassoura o príncipe?  Logo seu avental se transformou num lindo vestido branco, bem justo  com alças fininhas  e um pouco de brilho. A vassoura vestia um blazer  e tinha olhos de cristal.   A sala com enormes espelhos refletia o casal como um caleidoscópio, multiplicando seus gestos.  Ele (A vassoura), a conduziu para outro salão onde se encontravam inúmeros pacotes de presentes e ela começou a abrir um a um e em seguida dobrá-los numa completa loucura, encantada com tudo.
 - Sarah! Sarah! Ficou louca, ou continua sonhando? Disse Ana sem nada entender à garota.
 – Desculpe Aninha, estava apenas brincando um pouco. Sabe estava imaginando você dançando a valsa com seu pai na sua festa de quinze anos.  Deve ter sido tudo tão bonito! Sarah se desviou com essa    conversa para se desculpar por seus micos. 
-Sim foi muito bonito, e ele estava lá. Disse Ana.
-Quem seu pai?
-Não, o André, lembra que lhe falei?
- Sim disse Sarah. – E vocês dançaram muito? – Muito respondeu Ana. – Mas deixa para lá, depois te conto tudo.

-Ah!, vem aqui por favor.
  Ana virou-se para Sarah intrigada com o que viu antes. – O que você pretende fazer com todos esses papéis que dobrou e essas caixinhas?
Sarah meio desconfiada e sem graça, ria das perguntas. – Bem se você não se importar vou guardar, achei muito bonitas.  As caixinhas vão me servir para alguma coisa. São tão lindas! – Como você pôde jogá-las fora?
 Ana balançou a cabeça como se não acreditasse no que estava ouvindo.
-Olha essa aqui Ana, com esse laço maravilhoso é encantadora não podia desprezá-la assim .Sarah se sentia indignada.
-Você então precisa ver o que   traziam dentro delas, ganhei vários presentes maravilhosos. Disse  Ana. - E por falar nisso, espere um pouco que volto logo.

 E Ana saiu apressada.

Sarah aguardou a amiga imaginando o que poderia ser.
Rapidamente ela voltou com outra caixa na mão. –Toma é para você. Dirigindo-se a Sarah, com um sorriso aberto e feliz.
A garota  logo se deu conta de que era um aparelho Celular.
-Para mim?  –Não, não posso aceitar, o aniversário é seu e além do mais eu não pude te dar ao menos uma bijuteria, como posso aceitar . Disse Sarah ainda  surpresa .
- Olha na verdade eu ganhei mais de cinco desses de diversas marcas, não vai fazer falta alguma, e não se preocupe, pois a pessoa que me presenteou com esse aí,  a essa hora  está voando para bem longe,  e jamais vai saber disso.

 Sarah abraçou a amiga e patroa e em seguida a mesma passou a lhe explicar como usar.
Sarah naturalmente tinha um celular que não usava muito,  mas não como aquele de última geração.  Estava até meio tonta com tantos aplicativos como dizia Ana e tanta tecnologia.
Logo depois de um grande abraço de agradecimento, Sarah despediu-se da amiga que ia para a cidade.
 Sentou-se então no sofá e continuou apertando as teclas do celular testando o que lhe foi ensinado por Ana.
  Logo veio a visão de quando ela  desceu as escadas com a caixa na mão.   Pensou, nos celulares que a amiga ganhou,  pensou nas  próprias expectativas e refletiu:

 - Será que não existem mais caixinhas de música como aquelas com bailarinas?

Lourdinha Vilela.
                                                                                 

-

6 comentários:

  1. Os sonhos são tão diferentes! Seu conto mostra o quanto a simplicidade impera em alguns corações, principalmente os ricos em sentimentos. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Boa noite, Lourdinha
    Que lindo conto!
    Eu sou apaixonada por caixinhas de música.
    Sairam da moda.
    E uma pena, não?
    Um beijo para tí de
    Verena e Bichinhos

    ResponderExcluir
  3. Oi, Lourdinha, que linda reflexão sobre valores segundo a expectativa de cada pessoa...o que se quer ou pede ou sonha depende da vida de cada pessoa e também de sua alma...o valor relativo dos bens materiais diante do ser verdadeiro em sua consciência.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  4. Que lindo, Lourdinha! E temos que refletir muito no que aqui está implicito; cinco celulares de ultima geração para uma menina de 15 anos e outra, tão contente só com as bonitas caixas e fitas. E onde estão as caixinhas de música, as brincadeiras que, antigamente deliciavam as meninas de 15 anos.?
    Lembro quando tinha essa idade e tudo era muito diferente..
    Quero desejar-te um feliz natal, amiga e que o nascimento de Jesus que se comemora nesse dia não seja esquecido. Obrigada por tudo.
    Emília

    ResponderExcluir
  5. Lindo seu conto , as coisas mudaram tanto que nem sabemos onde está
    as meninas que também moravam em nós com tanta simplicidade
    e inocencia.
    beijinhos


    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oi Lurdinha vim agradecer tua visita e fiquei encantada com teu cantinho, Lindo Conto, levo-me a saudades que não voltam mais... beijos.

    ResponderExcluir