Imagem Mara Cruz
Sempre pelas manhãs, Maria, colhia flores para colocar nos vasinhos frente à Imagem da
virgem do Perpétuo Socorro. A
devoção ela havia adquirido através de
uma promessa, feita pela mãe quando no
momento de dar à luz, pediu à Virgem, na
sua aflição pelo difícil parto, para que sobrevivesse e salvasse a
filha e em promessa, a mesma teria o seu nome, e manteria uma Capela com
sua imagem, lhe trazendo flores frescas
pelas manhãs durantes todos os dias de sua vida.
A menina Maria crescia com muita saúde e vigor, e foi
acompanhando a mãe em suas visitas à pequena Capelinha construída com pedras no
fundo do quintal de sua casa.
Era lindo vê-la com as mãozinhas repletas de margaridas,
rosas, jasmins, para trocar pelas
florzinhas murchas, fazer orações,
repetindo as palavras da mãe
O cumprimento da promessa lhe trazia muita alegria, sentia-se protegida e de tanta devoção,tornou-se compulsiva.
O cumprimento da promessa lhe trazia muita alegria, sentia-se protegida e de tanta devoção,tornou-se compulsiva.
Maria tinha que encontrar flores. Não tinha mais sua mãe,
mesmo assim não abandonou a promessa, e todas as manhãs saía em busca de
flores. Não era fácil ter tantas flores
assim. No seu jardim as plantinhas já se sentiam
ameaçadas de tanta exploração.
Algumas acabaram por morrer. Maria,
ia até as casas que vendiam flores e comprava produtos para aumentar sua
produção de rosas e flores diversas. Não tinha condições para comprar vasinhos
com flores todos os dias, era melhor investir na terra do próprio quintal, mas
isto levava tempo sem contar com o problema das estações.
Ao que comentava toda a vizinhança, Maria já se tornara
inconveniente, perturbando a todos a
procura de flores. Embora muitos se enternecessem com o motivo da moça, outros
já a chamavam de “A louca das flores”. E
quando ela aparecia no portão, davam logo um jeito de se esquivar. Pobre Maria
que agora estava com seus vinte anos passou a roubar as flores durante a noite. Tudo isto lhe custou muitos
transtornos, com a vizinhança que já a olhava de cara torcida, por mais que o
motivo fosse o de uma grande causa.
Não se passou um dia
sem que a Capelinha
não recebesse as flores.
Maria casou-se teve filhos. Nunca soube ao certo,
o que pesava mais, o roubo das flores,
ou a fidelidade no cumprimento
da promessa feita pela mãe. Até das
praças públicas ela as retirava arrancando-as pela raiz, para replantá-las no seu próprio quintal,
aproveitando as flores para enfeitar a Capela. E assim de vez em quando teria
as próprias flores. Alguns aconselharam-na a
procurar um padre, para que ele possivelmente, a libertasse desta
promessa, que era uma promessa de sua mãe, etc., mesmo que lhe desse uma outra
menos complicada. Mas ela permanecia radical.
Os anos se passaram, ela ficou velha, teve netos e bisnetos.
Se locomovia com dificuldade, carecia de muitos cuidados, mesmo assim vinha de alguma forma cumprindo com a promessa.
Um belo dia encontrava-se no jardim florido. Com muita alegria
contemplava as florzinhas brancas da cor dos seus cabelos. Não pensou duas
vezes, abaixou-se com muita dificuldade
e com toda sua pequena força, lançou mão
do galho mais florido e o arrancou pela raiz.
Logo apareceu sua neta que a observava à algum tempo. Quando notou sua
presença, a velhinha , meio sem graça se
pôs a explicar , trazendo o assunto de sua própria história.
- Oi moça linda, me perdoe, mas preciso das flores, elas
estavam sobrando aqui no jardim e eu
preciso levá-las para a minha casa e entregá-las à Virgem do Perpétuo Socorro.
Não se zangue não, exclamou com ar de sofrida.
Sua neta, ainda pensativa e assustada, com toda aquela cena, a tomou pelo braço e disse:
- Minha avozinha querida, não percebes que estás em tua própria casa? Disse e em seguida a beijou na face.
Lourdinha Vilela
Um conto interessante...acabei de ler e estou ainda pensando.Há todos os elementos para uma reflexão, racional, poética e mística ao mesmo tempo...penso que alcançou o objetivo de nos fazer pensar e cuja solução só pode estar dentro de nossa própria alma.Gostei!
ResponderExcluirUm abraço
Obrigada Guaraciaba,
ExcluirVerdade amiga, a fé é algo que compete à nossa alma, e que nos torna possíveis as atitudes por vezes não compreendidas.
Bjs. Adorei seu comentário.
Muito terno seu conto. Não é uma obsessão querer cumprir uma promessa. A falta e solidariedade e os julgamentos costumam dificultar a vida de quem tem um coração puro e alimenta a fé. Bjs.
ResponderExcluirPerfeito seu comentário Marilene, penso exatamente dessa forma.
ResponderExcluirUm grande abraço, obrigada pela presença.
Bjs.
Que lindo, comovente esses conto e como adoro flores fico pensando se não serei como ela,rs Procurando flores sempre! Quanto ao final,
ResponderExcluirvivo esses drama ,mais ou menos assim ,com minha mãe... pena! beijos,chica
ResponderExcluirOlá Lourdinha,
Um conto bem comovente.
Particularmente, creio que promessas feitas por terceiros não trazem ônus a não ser para a pessoa que a fez. Mas Maria abraçou a causa com amor e devoção e não precisaria ter sido levada a roubar as flores se tivesse merecido a solidariedade e a compreensão da vizinhança.
Beijo.
Querida
ResponderExcluirNão tenho este dom maravilhoso de escrever.
Mas adorei seu texto,lindo!!!!
Obrigado pelo carinho da vst,vc é muito gentil
Uma Boa Noite
Bjsss