Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

30 de novembro de 2011

DO CORAÇÃO.




O horário foi marcado há duas semanas, seria às 15 horas.
Aline retirou a folhinha do calendário, suspirou aliviada e apreçada,  teria que se arrumar. Entrou no chuveiro molhou os cabelos, deixou que a água penetrasse bem neles e esfriasse um pouco sua cabeça que parecia ferver. Movimentos rápidos aceleraram seu banho.
Escolheu o vestido do primeiro encontro, era de cor rosa bem suave, com  a saia evasê.  Entrou rapidamente nele, secou os cabelos, caprichou na maquiagem e diante de um grande espelho sentiu certa alegria, aquela que toda mulher satisfeita com a própria imagem sente..  Seus cabelos longos e pretos caiam sobre os ombros cobrindo um pouco o decote, os olhos amendoados castanhos escuros, o corpo apesar dos seus trinta e seis anos de idade era bem delineado e proporcional.  Apesar de toda sua beleza Aline sentia-se apenas um projeto de mulher. Talvez  ao fim de toda esta angústia voltasse a se sentir mais valorizada em sua autoestima.
Os sapatos teriam que ser baixos, não conseguia dirigir de saltos, mesmo assim levou um par para trocar ao descer do carro, queria estar elegante.
Antes de sair Aline olhou de relance para o final do corredor e viu a porta de um dos quartos de seu apartamento recém pintada na cor creme, ainda exalava um cheiro de tinta fresca, esboçou um sorriso, fechou a porta e seguiu até o carro.
Já no carro sentia seu coração bater apressadamente, ligou o som para tentar se descontrair um pouco. No CD do Ozzy Osbourne procurou a música Mama I´M Coming  Home.
O Trânsito fluía bem. Desejou encontrar todos os sinais abertos. Acelerava muito ao longo das avenidas sem se descuidar da sinalização. Nada poderia comprometer sua chegada. No centro  da cidade tudo  lhe parecia bonito, até mesmo os muros  pichados com aqueles desenhos agressivos . O dia estava claro e revelador.
Quanto mais se aproximava do seu encontro, sensações se sucediam em seu coração, momentos de tensão, calafrios, euforia, Seu rosto também recebia tudo isso com um rubor intenso. Parecia fogo adolescente.
O CD reiniciava.
Chegou ao local.  Manobrou o carro em direção a guarita do estacionamento, se esqueceu de retirar o cartão de entrada, engatou a ré e agora sim, retirou o cartão e entrou. Sentiu-se um pouco mais tranqüila e agradeceu a Deus por ter chegado bem. Em seguida desceu do carro trocou os sapatos, pegou sua bolsa e dirigiu-se a portaria do prédio. O Elevador chegou rápido e logo estaria diante da realização do seu maior sonho, nada lhe traria mais felicidade. Chegou ao andar indicado,  caminhou um pouco até uma das portas, abriu e entrou.
Lá estava ele, os olhos negros e úmidos, parecia ter saído do banho, um cheirinho maravilhoso. -Chorou, Aline chorou também lágrimas da mais pura alegria depois de tanto tempo de sofrimento, correrias, e dissabores. Agora seus corações eram acalentados. Tremendo um pouco Aline retirou a manta azul que o cobria, queria senti-lo mais perto do peito. Acariciou sua face rosada e olhou para o alto como em uma prece e agradeceu novamente a Deus.
Enfim se concretizou todo o processo de adoção. Augusto era o seu nome. Assinou alguns papéis para cumprir mais um pouco de burocracia, tudo agora era apenas felicidade.
Deixou que os profissionais se despedissem dele enciumada, não queria perder nem mais um minuto da sua presença, sua vontade era  sair dali correndo, tinha um medo  inexplicável de que algo acontecesse e a fizesse perder tudo o que havia conquistado. Sua frustração pelo fato de não poder dar à luz, fez de sua vida um mar de tristeza.  Recordou a primeira vez em que o viu,  prematuro, perdido dentro das roupinhas, enfrentando todo o desconforto daqueles aparelhos. Tudo aconteceu quando visitava uma amiga no hospital. Seguindo um instinto, a sua vontade era de passar no berçário também, adorava crianças.  Uma enfermeira lhe informou a situação do bebê. Soube logo que por vários motivos narrados, iria para adoção.  Sentiu-se envolvida e apaixonada por ele, queria lhe dar toda a proteção.  Começou daí uma luta demorada.
 Agora porem, tudo era passado.  Entre beijinhos e adeusinhos eloqüentes, saiu orgulhosa e feliz com seu amorzinho nos braços.

No  carro, o aconchegou dentro do Moisés, e com grande carinho beijou seus pezinhos de filho do coração.


Lourdinha Vilela




Imagem da Internet



4 comentários:

  1. Lourdinha,que linda narrativa!
    Envolveu-me deste a primeira linha!
    Comoveu-me ao perceber que o amor era mesmo o maior amor que pode existir!
    Amor de mãe!
    Mãe que ganhou um filho assim prontinho para fazer da vida dela um paraíso!
    Abraços amiga linda!
    Ivone

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  2. Lourdinha
    Crônica muito emocionante, um desfecho surpreendente. Interessante, sabemos que todo encontro seja afetuoso, amoroso, fraternal, queremos nos vestir melhor, estar mais apresentável, gera mesmo uma certa ansiedade, pois todo encontro é permeado de fortes emoções. Bacana essa constatação. Amei sua crônica, emocionante. Bjo grande, uma ótima noite

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  3. Pura emoção, Lourdinha! Quer um amor mais lindo que esse? Toda a proteção ao filho do coração.

    Lindo final de semana!
    Bjs :)

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  4. Que lindo amiga!! Bom domingo e uma linda semana.
    Beijos
    Gilda

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