Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

4 de maio de 2014

Viajando no passado





As férias são sempre mágicas, mais ainda na infância, onde não estava (naquela época dos anos 60), cercada de medos e traumas que poluem os pequenos de hoje.  Que eu me recorde, o lugar para onde viajava era quase sempre a casa da minha avó, em Minas Gerais. Para mim não existia lugar melhor, embora não tivesse acesso aos outros lugares maravilhosos; era a casa de avós, e todos sabemos como é bom.

Na estrada eu conferia tudo, cada morro, nuvem, rio, ponte, placas, pássaros, gado, etc., claro ainda não existia o celular,  que nos conecta ao mundo, mas que nos deixa em posição de oração, com o pescoço dobrado,cabeça baixa e assim chegamos à várias distâncias, mas perdemos o foco do que nos rodeia,  no caso, da paisagem soberba cortadas pelas estradas, dos assuntos gostosos,descontraídos, das músicas que cantamos embalados pelo movimento do carro, das piadas que nos fazem sorrir, e desligar um pouco.

Quando chegávamos, eu meus pais e irmãos era aquela festa, uma mesa gostosa com tudo que criança gosta. Bolo de fubá, pudim, pão de queijo quentinho, suco natural de frutas colhidas lá no pomar do meu avô, brevidade, o cheirinho do papel que envolvia os biscoitos por dentro da lata ou da caixa, o  leitinho,  pão de mel. - De dar água na boca. 

A gente nem se cansava, tomava banho por que era obrigado, mas queria mesmo correr para as árvores, subir nas mangueiras carregadas, ser o primeiro a matar saudade do balanço que ficava ali pendurado, só esperando  pela nossa chegada.- Meu avô nestas alturas já havia conferido as cordas para não arriscar uma queda.

Depois era aquele almoço, toalha branquinha, galinha caipira, couve, angú de fubá, feijão preto, arroz soltinho, jiló que eu não gostava e que agora adoro e bolinho de arroz ou mandioca. Tudo tão simples, e hoje sei por que não me esqueço daqueles sabores, tudo vinha carregado de carinho, alegria e paz.
Depois do jantar, batia um sono, dormíamos cedo, enquanto os adultos, ainda recebendo visitas dos tios, primos, parentes em geral, tomavam café e chá.
Antes de pegar no sono, os pensamentos buscavam as lembranças do dia, das brincadeiras, e da promessa feita de, no dia seguinte, pegar o ônibus passear pela cidade, e visitar outros parentes. Daí talvez sem nem perceber eu acabava de arrancar com as mãos toda bolha que se formava na parede da massa corrida já estourando. Era muito bom. No outro dia, o quarto se enchia de pó branco que dava trabalho na hora de limpar.
Outras brincadeiras que eu inventava era andar pela casa com um espelho na mão, e como o telhado era do tipo colonial ainda sem forro e escurecido pelo tempo e também pela fumaça do fogão à lenha, dava uma sensação de medo, como se fosse cair enquanto atravessava os caibros. Sensacional, embora depois sentisse enjoo.  Fazer balanço nas cortinas que separavam a copa da cozinha também era uma brincadeira predileta.  Depois ver o meu avô cortar a lenha. A testa pingando suor. Eta velhinho forte!  E ainda, eu praticamente pelava as roseiras plantadas por minha avó, que para mim era outra rosa, espalhava nos jarros da casa e o interessante é que ela jamais me chamou a atenção.  Parecia querer aproveitar ao máximo o prazer da nossa visita e nos dar muito carinho.
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Não sei por que a saudade às vezes bate tão forte e passamos a recordar tantas coisas guardadas na memória, como se não quiséssemos que tudo se apagasse.
 Praticando o ato de relembrar, solidificamos os laços familiares, a ternura do encontro entre o passado e o presente que para mim é primordial e salutar.


 Aqui vou recordando até que novamente possa  voltar lá  à Terrinha dos meus avós  e caminhar  pelos caminhos da felicidade vivida.

Felicidade é saber reconhecer o que  faz a si próprio realmente feliz, sem ambicionar a felicidade que nos outros também os faz .


Um excelente domingo à todos.





                                                                  imagens da Internet

4 comentários:

  1. Momentos tão felizes que fazem tua recordação e saudade hoje.Lindo tudo! Faz falta, dá saudades! beijos,lindo domingo! chica

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  2. Uma crônica de puro encanto, por fazer brotar as lembranças de felicidade da vida simples do passado. Nada mais prazeroso que rever, pela memória, os lugares e as pessoas que preencheram o nosso universo infantil ou da juventude. Um texto cheio de ternura, que afaga a alma da gente.
    Bom domingo, Lourdinha. Beijos!

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  3. Olá, querida Lurdinha
    Que post mais dominical!!! Magnífico!!!
    Seja muito feliz e abençoada!!!
    Bjm fraterno de paz e bem

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  4. Oi, Lourdinha...que delícia de texto e que delícia de lembranças...um Brasil mais autêntico e feliz, onde
    prevaleciam os laços solidários de família unidos pelo amor...raízes são raízes que nos sustentam pela vida e fazem de nós pessoas mais inteiras...suas lembranças são também as minhas e de todos que temos plantadas em nossas almas as saudades de um Brasil brasileiro.
    Um abraço

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