O horário foi marcado há duas semanas, seria às 15 horas.
Aline retirou a folhinha do calendário, suspirou aliviada e apreçada, teria que se arrumar. Entrou no chuveiro molhou os cabelos, deixou que a água penetrasse bem neles e esfriasse um pouco sua cabeça que parecia ferver. Movimentos rápidos aceleraram seu banho.
Escolheu o vestido do primeiro encontro, era de cor rosa bem suave, com a saia evasê. Entrou rapidamente nele, secou os cabelos, caprichou na maquiagem e diante de um grande espelho sentiu certa alegria, aquela que toda mulher satisfeita com a própria imagem sente.. Seus cabelos longos e pretos caiam sobre os ombros cobrindo um pouco o decote, os olhos amendoados castanhos escuros, o corpo apesar dos seus trinta e seis anos de idade era bem delineado e proporcional. Apesar de toda sua beleza Aline sentia-se apenas um projeto de mulher. Talvez ao fim de toda esta angústia voltasse a se sentir mais valorizada em sua autoestima.
Os sapatos teriam que ser baixos, não conseguia dirigir de saltos, mesmo assim levou um par para trocar ao descer do carro, queria estar elegante.
Antes de sair Aline olhou de relance para o final do corredor e viu a porta de um dos quartos de seu apartamento recém pintada na cor creme, ainda exalava um cheiro de tinta fresca, esboçou um sorriso, fechou a porta e seguiu até o carro.
Já no carro sentia seu coração bater apressadamente, ligou o som para tentar se descontrair um pouco. No CD do Ozzy Osbourne procurou a música Mama I´M Coming Home.
O Trânsito fluía bem. Desejou encontrar todos os sinais abertos. Acelerava muito ao longo das avenidas sem se descuidar da sinalização. Nada poderia comprometer sua chegada. No centro da cidade tudo lhe parecia bonito, até mesmo os muros pichados com aqueles desenhos agressivos . O dia estava claro e revelador.
Quanto mais se aproximava do seu encontro, sensações se sucediam em seu coração, momentos de tensão, calafrios, euforia, Seu rosto também recebia tudo isso com um rubor intenso. Parecia fogo adolescente.
O CD reiniciava.
Chegou ao local. Manobrou o carro em direção a guarita do estacionamento, se esqueceu de retirar o cartão de entrada, engatou a ré e agora sim, retirou o cartão e entrou. Sentiu-se um pouco mais tranqüila e agradeceu a Deus por ter chegado bem. Em seguida desceu do carro trocou os sapatos, pegou sua bolsa e dirigiu-se a portaria do prédio. O Elevador chegou rápido e logo estaria diante da realização do seu maior sonho, nada lhe traria mais felicidade. Chegou ao andar indicado, caminhou um pouco até uma das portas, abriu e entrou.
Lá estava ele, os olhos negros e úmidos, parecia ter saído do banho, um cheirinho maravilhoso. -Chorou, Aline chorou também lágrimas da mais pura alegria depois de tanto tempo de sofrimento, correrias, e dissabores. Agora seus corações eram acalentados. Tremendo um pouco Aline retirou a manta azul que o cobria, queria senti-lo mais perto do peito. Acariciou sua face rosada e olhou para o alto como em uma prece e agradeceu novamente a Deus.
Enfim se concretizou todo o processo de adoção. Augusto era o seu nome. Assinou alguns papéis para cumprir mais um pouco de burocracia, tudo agora era apenas felicidade.
Deixou que os profissionais se despedissem dele enciumada, não queria perder nem mais um minuto da sua presença, sua vontade era sair dali correndo, tinha um medo inexplicável de que algo acontecesse e a fizesse perder tudo o que havia conquistado. Sua frustração pelo fato de não poder dar à luz, fez de sua vida um mar de tristeza. Recordou a primeira vez em que o viu, prematuro, perdido dentro das roupinhas, enfrentando todo o desconforto daqueles aparelhos. Tudo aconteceu quando visitava uma amiga no hospital. Seguindo um instinto, a sua vontade era de passar no berçário também, adorava crianças. Uma enfermeira lhe informou a situação do bebê. Soube logo que por vários motivos narrados, iria para adoção. Sentiu-se envolvida e apaixonada por ele, queria lhe dar toda a proteção. Começou daí uma luta demorada.
Agora porem, tudo era passado. Entre beijinhos e adeusinhos eloqüentes, saiu orgulhosa e feliz com seu amorzinho nos braços.
No carro, o aconchegou dentro do Moisés, e com grande carinho beijou seus pezinhos de filho do coração.
Lourdinha Vilela
Lourdinha Vilela
Imagem retirada da Internet.
Obs. Esta é uma postagem mais antiga, resolvi publica-la novamente.
Lindo e tão comovente.Emoção pura,né?beijos,tudo de bom,chica
ResponderExcluirOi Lourdinha!
ResponderExcluirQue conto maravilhoso!
....Filhos do coração...filhos enviado por Deus!
Mas pra que tanta burocracia! É claro que não pode entregar uma criança pra qualquer um...
Mas deveriam facilitar um pouco!
Um bom final de semana!
Beijos,
Mariangela
Que visão linda!! Que coisa bonita estes pesinhos...rs
ResponderExcluir[]s
Este pensador, viageiro entre Sois
ResponderExcluirEsta Ave pousada em mil embarcações
Este barco que passa sem vela ou remo
Esta arca repleta de vibrantes emoções
Esta mestiça flor de açafrão
Este ramo de espinhos cravados na mão
Esta alma que não ousa largar opinião
Este homem vestido de solidão
Ouvi um som profundo e breve
Vindo de uma perdida lembrança
Toquei de leve os trincos da memória
E senti o golpe frio de uma afiada lança
Boa semana
Doce beijo
ResponderExcluirOlá Lourdinha,
Bem envolvente. Adorei a leitura.
Posso imaginar a ansiedade e alegria de Aline ao receber nos braços o filho escolhido por seu coração. A adoção, além de dignificante, possibilita a realização pessoal de muitas mulheres que não podem gerar seus próprios filhos.
Beijo.
Filho do coração! Aquele escolhido para ser muito amado. Belo conto! Bjs.
ResponderExcluirHola Lourdinha tienes un bello espacio, un placer.
ResponderExcluirque tengas una buena semana.
recibe un saludo.
Emocionante!
ResponderExcluirTanto em prosa quanto em verso, transborda essa alma sensível.
Uma boa noite, Lourdinha.
Abraço fraterno e carinhoso!
Tão belo, Lourdinha!
ResponderExcluirAdorei o carinho e a ternura do seu texto.
Oi, Lourdinha, esse é o amor mais esperado, mais terno! E pensar que existe tanta burocracia. E por outro lado existe aqueles que procuram adotar crianças lindas e de olhos azuis... Adotar antes de tudo é pensar no outro, no carente, no infeliz.
ResponderExcluirLindo conto! O começo leva a pensarmos noutra coisa, mas o final surprende.
Beijos
Tais
Que maneira linda de descrever este momento impar e especial!Parabéns pelo conto e pela beleza de expressar sentimentos.
ResponderExcluirO sentimento do amor faz a vida preencher-se de magia e felicidade.Parabéns, saio daqui encantada.
Brisas e muitas flores para você.Bjs. Eloah
Vim agradecer a sua encantadora visita e te deixar meu abraço. Hoje estou assoberbada de trabalho. Volto depois com mais calma. Uma beijoka com meu carinho
ResponderExcluirGracita
Lindo conto, querida Amiga.
ResponderExcluirUm grande beijinho
cecilia
Que maravilha te ter como parceira aqui no nosso canto/encanto de poesia.
ResponderExcluirTambém gostei do conto, tão cheio de vida e fé.
Um grande abraço
Lourdinha,ainda bem que republicou pois eu não havia lido e adorei!Um conto cheio de ternura,muito lindo!bjs e meu carinho,
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