Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

21 de outubro de 2011

Feliz


Tenho recebido notícias, tantas
e de tudo,
que às vezes até me desvio delas
para não pirar.
Notícias econômicas
que me colocam em alerta,
de como devo gastar, de tudo que tenho à pagar,
do pouco que tenho, do muito que sonho,
e  perco o sono, e acordo no engano, mas volto a sonhar.
Notícias científicas,
de mil descobertas
que me colocam em alerta
do que posso ou não comer,
 como devo andar ou correr
de  ter que visitar o cardiologista, e todos os outros (istas)
e perco o sono, e acordo, sabendo que preciso  ao menos de oito horas de sono
prá continuar a viver e sonhar.
 Noticias da violência,
que nem precisariam noticiar.
Que me colocam em alerta
mas basta sair às ruas
E com violência me deparar
Notícias esportivas, tecnológicas, religiosas astrológicas,meteorológicas,geográficas,históricas,artísticas ...
Não sei na verdade aonde iria chegar!
Mas eu queria apenas notícias de velhos amigos
 E com os velhos amigos   me reencontrar,
relembrar coisas passadas
como, quando do colegio ao voltar,
 , rindo prá tudo e de tudo,
o  ônibus pegar e dentro do ônibus poder cantar.
Na descida prá casa me equilibrar sobre as guias,
abrir o chocolate que amassou no bolso do jeans
e a cara lambuzar.
Sentir de longe o cheiro de bife
no almoço ou jantar e, ainda
com os amigos apostar,
-Vem lá de casa. E a aposta ganhar.
Como seria bom, noticias sobre a lua escutar
Que ela hoje estaria cheia,
e a rua cheia de gente  despreocupada e feliz encontrar.

Lourdinha Vilela

NAS RUAS.


Vou fechar os meus olhos,
se por eles já fechei minhas mãos,
se por eles não falei aos políticos,
se por eles não gritei aos céus,
se apenas deixei que passassem,
e cuidei para que não me importunassem.
Vou fechar os meus olhos,
pois só agora compreendi,
que em cada um deles, Tu estavas,
que por cada um deles, Tu gritavas,
que aos céus Tu, os levavas,
que em trapos era Tu 
que assim te vestias
e passavas por onde eu bebia e comia,
do pão que Tu me davas
e eu não sabia.
Vou fechar agora os meus olhos,
e em oração vou Te pedir perdão.

Lourdinha Vilela

15 de outubro de 2011

INOCÊNCIA- Minha eterna homenagem .

Flamboyant

Um professor é a personificada consciência do aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-lhes o motivo de sua insatisfação e lhe estimula a vontade de melhorar.Thomas Mann- ;Consulta - O PENSADOR
                                                                Imagem Wordpress

1965.
                                                                       
Quando amanheceu, Eliza correu para o fundo do quintal de sua casa. Uma casa simples com janelas de madeira que já se encontrava corroída, uma árvore florindo cujo nome ela ainda não conseguia pronunciar direito, era o famoso flamboyant que cobria com folhas caídas de seus galhos o enorme telhado de um velho galpão.  Era outono.
Ninguém deveria descobrir o seu segredo. Era a segunda manhã em que agia dessa forma. Acordava bem cedinho antes de todos e corria para o galpão onde havia uma série de coisas guardadas. Toda aquela velharia era como um tesouro, graças às inúmeras possibilidades de brincadeiras a serem exploradas, onde a imaginação criava asas, porém por ordens expressas não deveria mexer. Aí a curiosidade aumentava e sempre que de sua mente esperta nascia alguma idéia, recorria aos caixotes atolados de surpresas. Numa dessas investidas Eliza descobrira um amontoado de azulejos de todas as cores, branco, azul, rosa, eram peças antigas de uma coleção e a menina ficou encantada. Como se recordara dessas peças, nessa manhã ali estava colocando seus planos em ação.
                                                                            
Aquele seria um dia festivo. Era o aniversario da professora Dione. A escola, a mais pobre escola do bairro ficou toda enfeitada com bandeirinhas feitas pelos próprios alunos. Nas salas, os professores retomavam os ensaios das homenagens que seriam feitas a ela. Um palco foi montado no pátio, claro haveria teatrinho, muita música, dança e também um lindo bolo, salgados, refrigerantes, etc. Para Eliza era um privilégio e um orgulho ser sua aluna. Todos a amavam. Era a mais antiga professora da escola.
Eliza ensaiou durante duas semanas a musica “Granada”, a preferida de sua professora. Dione, descendente de espanhóis gostava de cantarolar velhas canções e sempre comentava sobre o país de origem de seus pais com seus alunos. Essa canção seria interpretada em espanhol, e possuía notas muito altas, bastante difíceis para uma menina de apenas dez anos de idade. Sua voz era maravilhosa. Em todas as festividades da escola lá estava ela cantando as canções escolhidas pelos professores.

                                                                                                                                                                
 Tudo pronto, Eliza vestia um lindo vestidinho vermelho, longo  rodado e com vários babados, parecia mesmo uma dançarina de flamenco.  Para acompanhá-la duas meninas vestidas da mesma forma, tinham os cabelos presos por uma flor na mesma estamparia dos vestidos. A roupa de Eliza fora emprestada por uma amiguinha.   
Ao final de sua respectiva apresentação, cada aluno ou grupo faria a entrega do presente à professora. Eliza olhava assustada e receosa para o cesto onde se encontravam e pelo capricho dos embrulhos podia imaginar como deveriam ser bonitos e caros talvez.  Suava frio, ao lembrar-se do seu humilde presente.  Qual seria a reação de sua querida professora?  Teria sido melhor que não trouxesse nada e apenas lhe entregasse o seu abraço tão esperado?  Mil coisas passaram por sua cabeça. Ela sabia das dificuldades financeiras de seus pais e nem ao menos tentou molestá-los para que lhe ajudassem a presenteá-la. Ansiosa lembrou-se da dificuldade em ficar lá no galpão e preparar aos poucos a cada dia o que seria o seu presente e ainda trazê-lo para escola. - Nossa como pesava! Precisou da colaboração de uma colega.

Ao chegar a sua vez de se apresentar Eliza tremia. Subiu ao palco com as outras meninas.   Estavam lindas. A música seria interpretada apenas ao som de um violão elétrico, que conseguiram com o filho do prefeito da cidade. Ele mesmo faria o acompanhamento.
 Foi um verdadeiro sucesso, os aplausos soavam cada vez mais fortes, todos ficaram de pé, muitas lágrimas e muitos elogios. Elisa seria um dia uma grande cantora. Sua interpretação foi perfeita.  Mas, e agora? Chegou o grande momento! Eliza deixou que suas amiguinhas se colocassem a sua frente e entregassem seus presentes.  Ela seria a última. A professora abraçou a cada uma delas.  Eliza fez um sinal para sua coleguinha, aquela que lhe ajudara antes no caminho para escola.  Ela subiu ao palco e solidária carregou a metade do presente de Eliza até a professora Dione.
Houve um grande silêncio. Apenas se ouvia o barulho do papel de seda enquanto a professora o rasgava.  Ela olhava o embrulho e as mãozinhas de Eliza que sangravam.  Meio perdida aproveitou o papel para limpá-las. Aos poucos ia descobrindo a dedicação de sua alunazinha e o motivo de haver se cortado “Os lindos azulejos decorados por Eliza”. A menina provavelmente recortou de alguma revista ou talvez  da capa de  um disco a  letra da  música que acabara de interpretar e colou em partes nos azulejos  de modo que a seqüência de uma estivesse em outro , daí  a quantidade de azulejos utilizados.  As bordas foram decoradas com laços de fitas brancas. Em outro colocou sua própria fotografia.  A professora chorava emocionada ao ver tanta criatividade e amor.  Sabia que jamais iria se separar daqueles azulejos, tão simples e tão significativos. Abraçou Eliza com muita emoção e secou duas lágrimas no seu rostinho de criança assustada.                                                                           


Lourdinha Vilela.
                              
                                                      fim


Granada é uma canção mexicana escrita em 1932 por Agustin Lara . A canção fala sobre a cidade espanhola de Granada e tornou-se um Standard no repertório de musica devido à natureza exuberante da melodia e as letras em espanhol "Granada" foi aceita por cursos de musica da faculdade como uma "Canção Arte".Fonte:Wikipédia.


Musica de Agustin Lara 
Interpretação - el tenor José Carreras
Video -YOU TUB enviado por DanúbioAzul

Professor – O INSUBSTITUÍVEL

Mesmo que a máquina venha substituir o professor no amanhã, esta não será capaz de germinar idéias e sugestões.-  Erasmo Shallkytton - site O PENSADOR


.

14 de outubro de 2011

FLORES DO CERRADO

A força da natureza me surpreende sempre nas flores do cerrado, vejam a delicadeza dessas flores que proporcionam alegria aos olhos de quem as encontrem. Sou apaixonada pelas espécies nativas do cerrado, tanto me fazem bem aos olhos como à alma.  Muitas vezes elas nos dão a impressão de serem apenas frágeis sobreviventes. Noutras tenho a sensação de que são a prova viva da força que vem de Deus. Sem ter  alguém para regá-las nas prolongadas secas, aguardam a primeira chuva e  despertam do seu adormecer  sob solo  ardente,   nos presenteando  com o seu colorido singular.


Imagens - Lourdinha Vilela 

4 de outubro de 2011



Meus versos são lúcidos,
quando exponho a minha realidade.
Se acaso, me encontro em meus devaneios
quão insanos serão os meus versos
À confundir as minhas verdades.  


Lourdinha Vilela