Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

30 de outubro de 2013

Nas nuvens

 Imagem da Internet

Por vezes a saudade me toma de assalto,
E volto à morada da nossa juventude
Onde o esperar era palpitante e tão alto
Que até as nuvens perdiam a quietude.

Na ânsia de te ver chegar,
 Mil vezes ia à janela,
Vestida  pra dançar
Só pra ouvir de você, que eu era a mais bela

Não sabia das suas mentiras
Tão pouco das suas verdades
Queria ser feliz, sonhar e acreditar,
Andar de mãos dadas, sob as luzes da cidade.

A primavera trazia as flores
O verão, sorvetes e afins
No outono caíamos de amores
No inverno!  A sua jaqueta jeans...

Hoje sobre nossos olhos negros,
Nuvens repousam... -Calma e harmonia
Dentro de nós palpitam ainda os segredos
Que um grande amor, construíam

Lourdinha Vilela






Vejam também

Na Roça
Vejam em www.suaveenatural.blogspot.com

29 de outubro de 2013

Diálogos adolescentes e chocolate.



No pátio do colégio...

­
-Oi Elen, - Disse Jean à amiga
-Oi. - Elen cumprimentou-o com dois beijinhos.
-Preciso urgente de umas respostas. - Ele falou.
- Qual o nome da menina que se despediu de você agora? -Jean parecia eufórico.
- É a Layla
- Já sabia, mas queria confirmar, - Por que você não me apresentou? Estou louco para conhecê-la  melhor.
-Ela estava com pressa. Os pais vieram buscá-la. - Iam  se encontrar com os avós no aeroporto.
- Matando aula! -Disse Jean
- Vai perder as duas últimas aulas, mas pegou autorização e também, está passada nessas matérias. É super estudiosa. - Elen admirava a colega, sempre à frente dos outros alunos. Sabia ainda que a amiga nutria um certo interesse por Jean, porém pediu segredo.
- Por que você não foi atrás dela? Nunca foi de esperar!-
- Sei lá, ela me parece ser diferente das outras garotas. É séria, tímida, tenho que chegar com jeito. Fe falta coragem, é estranho.
-Ah! Tá. Faz de contas que eu acredito. -Elisa estava surpresa.

Layla era uma linda garota, olho e pele claro, cabelos longos com luzes, um corpo proporcional à sua altura. O Tipo que chama a atenção. Bastante tímida, em relação às garotas da sua idade, que não esperam para ver acontecer e literalmente se jogam para cima. Talvez seja este o motivo pelo qual Jean se encontrasse encantado com a menina. - O mistério à sua volta. -A sua personalidade diferenciada das demais. -Algo tão escasso nos dias atuais. Tudo isto deixava Jean intrigado, curioso, e quem sabe apaixonado.

-Fico meio preso quando a vejo. Ela pega o mesmo ônibus que eu no final da aula. Pela manhã, deve vir com o pai. - Eu não a vejo.
-É ela  ela mora no seu bairro. Mas estou te estranhando. - Elen  balançava a cabeça não entendendo mesmo a atitude de Jean que tinha fama de ganhar todas as garotas do colégio.
-Jean, é quase impossível acreditar nisto! Você se apaixonou...
- Tá  legal, mas não se preocupe, amanhã vou chegar junto. -Prometo. -----Na saída.
- Eu torço por vocês. Ela é muito legal- disse Elen batendo a mão no ombro de Jean.
- Mas me fala alguma coisa sobre ela... - Ele estava curioso.
-O que, por exemplo?- A amiga sentia a ansiedade de Jean...
-Fala dos gostos. -O que curte fazer, fala das músicas dos filmes.  Gosta de balada? -Estas coisas. -Me ajuda vai...
- Você ficou careta de repente Jean, está a fim mesmo da Layla, isto é inédito.
 -Bem, ela é Roqueira,
Jean interrompe - Nota-se pelas roupas.
-Parece até contraditório com o perfil suave que ela possui, - continua Elen, - mas curte rock, conhece todas as bandas. Tem coleções de CDs. –Outra coisa: É  chocólatra.
Jean corta a fala da amiga. – Chocólatra, - Que bom saber isto!
 -Gosta de ir a shows de rock, é claro, não gosta de balada.
 Elen continua, quando é interrompida pela sirene do colégio.
Hora de voltar para a sala de aula.
-Te vejo depois disse Jean, bem mais empolgado.

No dia seguinte, de volta pra casa, Jean quase perde o ônibus. Entra apressado e logo avista Layla nos primeiros bancos do lado da janela.
-Oi.  Falou ofegante.
Oi, Ela respondeu.
Posso me sentar? -Já se sentando ao seu lado.
- Claro.
 Layla respondeu, parecendo não dar importância à presença do colega, mas seu coração parecia a Bateria da Beija-Flor de Nilópolis,  ao entrar na avenida. - Conteve a emoção.
Jean respira fundo, tentando iniciar um papo.
-Você é amiga da Elen, não é? Estão sempre juntas...
-Sim. – E você também, - eu sei! Disse Layla, - Ainda trêmula.
- Eu a conheço desde o Ensino Fundamental.
- Que legal, disse layla, mais interessada agora.

Fazia muito calor. Layla tenta abrir a janela, que se encontrava emperrada. - Jean logo se oferece para abri-la, notando a dificuldade da garota. Debruçou-se sobre sua cabeça e sentiu sua blusa esbarrar no rosto de Layla, que sentiu certo arrepio.
O esforço foi inútil. E o calor aumentava à medida que o coletivo seguia pela avenida, cercada de lojas por um lado e residências por outro. Um pouco decepcionado Jean sentou-se novamente.
-Onde você mora exatamente? Perguntou ainda desconcertado.
- Em frente ao Shopping. - Respondeu
- E você?­
- Eu moro um pouco mais acima, perto do hospital.
- Bem mais distante. - Disse Layla.
O ônibus cortava a cidade Satélite de Norte a Sul.
Durante o trajeto, conversaram sobre vários assuntos pertinentes ao colégio, música, viagens, etc. - Sentiam-se muito à vontade, como que se conhecessem há tempos.
Layla ajeitou o material no colo, estava inquieta.
- Não sei se é porque estou com fome, mas estou sentindo um cheiro bom! -Parece  cheiro de chocolate. - Layla fez cara de fome.
-Sério? -Então feche os olhos, - Disse Jean, lembrando-se do chocolate que trazia no bolso.
- Não vai me dizer que você tem um chocolate?
-Feche os olhos. - Insistiu Jean.
Em seguida, puxa uma barra de chocolate do bolso.
-Agora pode abrir os olhos. – Disse Jean. – Em suas mãos, o chocolate derretia.
O papel havia se rasgado.
Os dois se desataram em risos, amenizando a situação desconfortante.
-Meio sem jeito ela perguntou. Há quanto tempo este chocolate está em seu bolso?
-Desde esta manhã. - Comprei especialmente para você.
-Como você soube? – Não precisa responder. – Foi a Elen,- tenho certeza!
-Quem sabe... -Mas você ainda quer este chocolate, mesmo assim derretendo?
- Claro, não consigo resistir, ainda mais com fome. - Os olhos de Layla brilhavam.
 Com as próprias mãos, ela retirou um pequeno pedaço que também começava a derreter. Ele fez o mesmo. -Sobrando um último pedaço.  Comeram igual criança, sujando a boca, mesmo porque não paravam de rir, chamando a atenção dos outros passageiros, na maioria, estudantes.
Jean então ofereceu o último pedaço e o levou até layla, aproximando as mãos de sua boca. A garota, tentando ajudá-lo, acabou por encostar as próprias mãos nas mãos dele. Ficaram muito próximos agora.
- Você é muito linda! - Falou baixinho. - Mesmo com todo este chocolate no rosto.  E de surpresa, - Layla ganhou um carinhoso beijo.
- Um beijo com sabor de chocolate.

Os aplausos que ressoaram dentro do ônibus, não impediram que Jean e Layla  ouvissem os sininhos.

26 de outubro de 2013

Da submissão.

Imagem da Internet

O que pensar, senão os teus pensares?
O que sorrir, senão o riso largo na tua boca?
-Esta praia com as pedras cobertas pela areia branca!.
O que chorar, senão as tuas penas,
 quando te encontras no fundo de tua imensa tristeza.?
O que viver, senão o teu sopro, quando dizes que me ama?.
O que celebrar, senão  a tua vida...

Lourdinha Vilela





25 de outubro de 2013

Amor


Na face, a revelação!
A palidez denunciando o medo
O rubor explodindo os sentidos
Sem o véu da sensatez 
Esquecendo seus limites
Transformando-se 
Afrodite

 Lourdinha Vilela.


Imagem- Afrodite e Adônis
Pintura em óleo de Sidney Meteyard -l868 - 1947
Birmingham Art Gallery


Vejam- Agonia das Rosas
 em
http://suaveenatural.blogspot.com.br/





19 de outubro de 2013

Eternamente jovem


http://www.youtube.com/watch?v=EUKUMmM89IQ


Era uma sala com dois  ambientes,diferente das demais.  A decoração conservava ainda alguns traços da década de 60 .No piso tábua corrida que brilhava muito...- Eu conseguia ver o reflexo  dos móveis. Em um destes ambientes haviam duas poltronas em veludo vermelho e uma mesinha no centro.(Lindos móveis sobre  pés palito). Cortinas um pouco transparentes, pareciam Voil, não sei ao certo, sei que  podia  ver,  embaçadas, as flores no jardim. Num cantinho a Rádio Vitrola com o disco do Bob Dylan- Forever young
No outro espaço  encontrava-se  poltronas, tapete, e uma escrivaninha. Havia ainda uma estante embutida tomando uma parede e repleta de livros. Lugar de sonhar, esta sala, parecia a pele da minha própria vida, era o meu primeiro contato com o mundo, ali, estabeleci uma grande amizade com os livros e com a leitura. Encantada descobrindo horizontes, passava horas  presa àquela sala...
A primeira porta para  a minha  liberdade.

(A Vitrola, foi transformada em  outro móvel, após alguns anos)


Lourdinha Vilela

                                                                          

Abrigo


O que me prendeu a você
não foi apenas o seu olhar
furtando o meu olhar
muitas vezes esquivo
querendo não te olhar.
Não foi apenas o seu sorriso,
fazendo o meu sorriso despertar.
Não foram apenas suas mãos,
a me carregar
por um céu de nuvens claras ,
e pelas ondas do mar azul  voltar.
Não foram apenas suas doces  palavras,
dignas de um poeta,
que espera o luar
prá se inspirar.
O que me prendeu a você
Foi tudo isso!
E mais que isso...
Foi a certeza, de que estarias
Sempre comigo
E que e serias eternamente
O meu  abrigo

Lourdinha Vilela



17 de outubro de 2013

Descaso





Não cultivo a tristeza,
ela é quem me quer cultivar.
Sou pétala frágil
me desmancho no ar

Passo a passo
Sigo seus passos
pra descansar
no seu abraço

O que fazer neste espaço,
entre a procura e o descaso,
se vives a me desprezar?
Vem então a tristeza, o meu coração, ocupar

Lourdinha Vilela







15 de outubro de 2013

Como o vento


                      


Na euforia do vento,
atrevo-me- transcender.
Quero juntar-me ao som
ao movimento,
quando envereda
túneis e alamedas
por entre a mata ciliar.

Soar, ressoar
Somado ao rumor do rio.

Transportar folhas,
flores e cores,
sementes,
à terra úmida
à esperar

Lourdinha Vilela.


foto Lu


12 de outubro de 2013

Foto- Lú Vilela.

As paisagens mais belas? Muitas vezes só conseguimos vê-las, dentro de nós mesmos,
nas nossas lembranças.
quando  a saudade traz de volta.

10 de outubro de 2013

Vícios

                                                                         Imagem do Google



A mesa estava posta. Os dois filhos aguardavam,inquietos, enquanto a mãe, ia e voltava  da copa para a janela  da sala que dava para a rua.

Clara achou melhor, que não esperassem mais pelo pai.

Sempre acontecia assim aos domingos.  Aquela mesa arrumada com muito carinho, toalha branca, travessas, flores,  tudo o que de melhor  uma mulher é capaz de fazer para agradar seus filhos e seu marido. Porém uma expectativa  que sempre frustrava  aquela linda mulher .

Almoçaram silenciosos. 

Clara serviu a sobremesa. Um sabor amargo, não deixou que ela a saboreasse com gosto.  De Vez em quando, os meninos viam lágrimas no rosto da mãe.  Foram para a sala de TV.

Após algum tempo,  ouviram a freada brusca do carro do pai que voltava sabe-se lá de onde, mas com certeza de algum bar.  Por mais que a situação se repetisse, a família não se acostumava, e era sempre motivo para sentirem o coração apertado,  como se algo faltasse  para preenche-los de vida.

Clara era uma mulher recatada  e acreditava que um dia aquela situação pudesse  reverter-se  e muitas vezes calava-se para  não tornar o ambiente desagradável aos filhos, mesmo quando Fábio, seu marido,  sem motivo algum, a não ser pelo pior deles, o de estar embriagado, criasse um conflito, algo que ela mais temia. Assim o tratava como se nada tivesse acontecido, amparando-o, escutando suas repetidas conversas, palavrões, risos e até choro. Uma transformação de água para vinho, que nesses momentos ela preferia engolir e sufocar. Logo ele  caia em sono profundo  e acordava outro homem, o mesmo    por quem se apaixonara.

Naquele dia porém, os filhos aguardavam Fábio para participar da festa do Dia dos Pais. Eles estavam ansiosos para que chegasse o domingo. Era uma festa muito bonita que acontecia todos os anos no colégio, mas pelo horário de sua chegada, sabiam que não daria mais tempo.
 Mais uma decepção, e as carinhas de tristeza cortava o coração da mãe. Há muito  não se divertiam juntos.  Deixaram de comparecer em vários compromissos,  entre eles, festas de aniversário, datas  de comemorações religiosas e escolares de grande importância e quando  compareciam, eram acompanhados apenas pela mãe.

Na  sala as crianças assistiam à um filme. Fábio entrou sem sequer cumprimentar os filhos. Mudou o canal de forma brutal.
 O mais velho resmungou :
– Poxa pai, estava no final do filme!
E o mais novo teve a infeliz ideia de dizer:
-É pai já estava no epilógo.
 Fábio  voltou-se para os filhos, furioso.
-Por  que acham que eu vou perder o futebol, para que vocês assistam a um filminho qualquer?  - Além do mais, o que estão fazendo na escola, que eu pago tão caro, e não aprendem  a falar.- Não é epilógo é epílogo. Epílogo, entenderam?!

Os meninos se encolheram assustados com a atitude do pai. Clara veio da sala , correndo e encontrou o marido furioso, esbravejando, gesticulando, para cima dos filhos...
 Foi a gota d´água. Seguro-o pelos braços, e uma forte discussão começou entre os dois.
-Não toque nos meus filhos. Disse  ela ao marido, colocando toda sua força na voz e nos braços. Desabafando sua mágoa, falou de suas decepções,  de  sua carência, enfim de tudo o que perderam juntos, em nome daquele vício que estava ganhando campo, comprometendo  a felicidade da família.
Caminharam para o quarto do casal, ainda em discussão. Em determinado ponto, Fábio, atirou o copo que até ali não largara, contra o espelho do armário. Calaram-se finalmente. Um silêncio doído, evocando outros sentimentos. Ele entrou no chuveiro. Pela primeira vez a mulher ousou desafiá-lo.

 Clara  olhou o  espelho   trincado.

Momentos depois ela  o observava, jogado na cama, o braço estendido em direção ao chão, e como  sentisse uma enorme pena, ajeitou-o para cima da cama. Era um homem bonito apesar da idade. Sentia que ainda o amava muito e sabia do amor dele por ela.  Não entendia, tanto sonho jogado fora. Antes era tudo diferente, eram um casal perfeito. Sentia agora na face as lágrimas de medo, incerteza e de saudade.

Amanheceu.

O sol vencia as cortinas e penetrava sutilmente no quarto, trazendo a claridade. Pardais em bando, entoavam uma canção frenética, saudando a manhã.

O espelho refletia como um mosaico a    imagem do casal abraçado.

Nova trégua, na batalha entre o rancor e o amor.

Lourdinha Vilela




3 de outubro de 2013

Braços


Quando me vi, roubada  de mim,
apagou-se o tom rubro na minha face,
quebrou-se as asas do meu pássaro azul- sonho, 
espargiu-se meu  vinho  
meu  mel.
Pelo chão jogadas,
 -as taças.
 Minha boca fechada,
  apagou um  sorriso.
Meus braços porém,
multiplicados para não submergirem à dor.
quiseram abraçar o sol.
Acreditei!
Embora vazia,
poderia novamente
alcançar o céu.

Lourdinha Vilela