As férias são sempre mágicas, mais ainda na infância, onde
não estava (naquela época dos anos 60), cercada de medos e traumas que poluem os
pequenos de hoje. Que eu me recorde, o
lugar para onde viajava era quase sempre a casa da minha avó, em Minas Gerais. Para
mim não existia lugar melhor, embora não tivesse acesso aos outros lugares
maravilhosos; era a casa de avós, e todos sabemos como é bom.
Na estrada eu conferia tudo, cada morro, nuvem, rio, ponte,
placas, pássaros, gado, etc., claro ainda não existia o celular, que nos conecta ao mundo, mas que nos deixa em
posição de oração, com o pescoço dobrado,cabeça baixa e assim chegamos à várias
distâncias, mas perdemos o foco do que nos rodeia, no caso, da paisagem soberba cortadas pelas
estradas, dos assuntos gostosos,descontraídos, das músicas que cantamos
embalados pelo movimento do carro, das piadas que nos fazem sorrir, e desligar
um pouco.
Quando chegávamos, eu meus pais e irmãos era aquela festa,
uma mesa gostosa com tudo que criança gosta. Bolo de fubá, pudim, pão de queijo
quentinho, suco natural de frutas colhidas lá no pomar do meu avô, brevidade, o
cheirinho do papel que envolvia os biscoitos por dentro da lata ou da caixa, o leitinho, pão de mel. - De dar água na boca.
A gente nem se cansava, tomava banho por que era obrigado,
mas queria mesmo correr para as árvores, subir nas mangueiras carregadas, ser o
primeiro a matar saudade do balanço que ficava ali pendurado, só esperando pela nossa chegada.- Meu avô nestas alturas
já havia conferido as cordas para não arriscar uma queda.
Depois era aquele almoço, toalha branquinha, galinha caipira,
couve, angú de fubá, feijão preto, arroz soltinho, jiló que eu não gostava e
que agora adoro e bolinho de arroz ou mandioca. Tudo tão simples, e hoje sei
por que não me esqueço daqueles sabores, tudo vinha carregado de carinho,
alegria e paz.
Depois do jantar, batia um sono, dormíamos cedo, enquanto os
adultos, ainda recebendo visitas dos tios, primos, parentes em geral, tomavam
café e chá.
Antes de pegar no sono, os pensamentos buscavam as
lembranças do dia, das brincadeiras, e da promessa feita de, no dia seguinte,
pegar o ônibus passear pela cidade, e visitar outros parentes. Daí talvez sem
nem perceber eu acabava de arrancar com as mãos toda bolha que se formava na
parede da massa corrida já estourando. Era muito bom. No outro dia, o quarto se
enchia de pó branco que dava trabalho na hora de limpar.
Outras brincadeiras que eu inventava era andar pela casa com
um espelho na mão, e como o telhado era do tipo colonial ainda sem forro e
escurecido pelo tempo e também pela fumaça do fogão à lenha, dava uma sensação
de medo, como se fosse cair enquanto atravessava os caibros. Sensacional,
embora depois sentisse enjoo. Fazer
balanço nas cortinas que separavam a copa da cozinha também era uma brincadeira
predileta. Depois ver o meu avô cortar a
lenha. A testa pingando suor. Eta velhinho forte! E ainda, eu praticamente pelava as roseiras
plantadas por minha avó, que para mim era outra rosa, espalhava nos jarros da
casa e o interessante é que ela jamais me chamou a atenção. Parecia querer aproveitar ao máximo o prazer
da nossa visita e nos dar muito carinho.
.
Não sei por que a saudade às vezes bate tão forte e passamos
a recordar tantas coisas guardadas na memória, como se não quiséssemos que tudo
se apagasse.
Praticando o ato de relembrar, solidificamos os laços familiares,
a ternura do encontro entre o passado e o presente que para mim é primordial e
salutar.
Aqui vou recordando
até que novamente possa voltar lá à Terrinha dos meus avós e caminhar
pelos caminhos da felicidade vivida.
Felicidade é saber reconhecer o que faz a si próprio realmente feliz, sem ambicionar a felicidade que nos outros também os faz .
Um excelente domingo à todos.
Momentos tão felizes que fazem tua recordação e saudade hoje.Lindo tudo! Faz falta, dá saudades! beijos,lindo domingo! chica
ResponderExcluirUma crônica de puro encanto, por fazer brotar as lembranças de felicidade da vida simples do passado. Nada mais prazeroso que rever, pela memória, os lugares e as pessoas que preencheram o nosso universo infantil ou da juventude. Um texto cheio de ternura, que afaga a alma da gente.
ResponderExcluirBom domingo, Lourdinha. Beijos!
Olá, querida Lurdinha
ResponderExcluirQue post mais dominical!!! Magnífico!!!
Seja muito feliz e abençoada!!!
Bjm fraterno de paz e bem
Oi, Lourdinha...que delícia de texto e que delícia de lembranças...um Brasil mais autêntico e feliz, onde
ResponderExcluirprevaleciam os laços solidários de família unidos pelo amor...raízes são raízes que nos sustentam pela vida e fazem de nós pessoas mais inteiras...suas lembranças são também as minhas e de todos que temos plantadas em nossas almas as saudades de um Brasil brasileiro.
Um abraço