Poesia

A Poesia alcança as fadas, encanta a chuva na madrugada, acompanha os ébrios nos dormentes e se mistura à solidão nas calçadas.

3 de abril de 2014

Um Pé de saudades




Há tempos, cultivávamos um abacateiro em nossa casa. Cresci vendo seus galhos multiplicarem-se e nos presentear com sua sombra. Eu já não me recordo de quando foi  que ele me ultrapassou em altura, nem tão pouco quando se deu a sua primeira florada, mas me lembro que a partir daí jamais deixou de frutificar. Todo ano distribuíamos abacates para a vizinhança.  O abacateiro cresceu demais, e como foi plantado muito perto da casa, estava trazendo problemas.  Seus galhos debruçavam-se sobre o telhado e quando chovia, o vento os jogavam de um lado para outro, numa dança frenética, com sons que pareciam uivos de lobos. Eu tinha muito medo.  No decorrer do tempo, foi cogitado o interesse em cortá-lo por precaução, já que seus galhos atingiriam a rede elétrica. A torcida era para que ele apesar dos problemas continuasse lá, como um marco em nossa família. 
Todas estas passagens que me recordo agora me trouxeram a lembrança de meu pai. Quando eu me sentia com muito medo, na hora das tempestades, eu o chamava e o levava até a janela para mostrar a situação do abacateiro.  Ele olhava, fazia cara de Super- Homem e como se analisasse o problema, que na verdade era mais assombroso em minha mente do que real, passava a mão nos meus cabelos e me dizia para sossegar meu coração, que não havia perigo algum. Nunca soube ao certo se dentro dele mesmo, talvez houvesse ou não uma pontinha de medo, mas suas palavras traziam a segurança de que eu precisava para relaxar e curtir a beleza da chuva, vendo o barro que salpicava da terra pela força dos pingos e sujava as paredes da casa que logo a chuva lavava e novamente o barro sujava. Ver os caminhos que a água fazia como uma serpente. Correr, pegar folhas de cadernos e construir barquinhos. Vê-los desmanchando-se e, quando eram feitos de revistas, observar as figuras deformando-se até colorir um pouco a água. Contar os clarões dos relâmpagos e esperar o barulho dos trovões.  Um pouco mais tarde, sair prá rua e comemorar um novo clarão, dessa vez, o clarão do sol, atraindo borboletas sobre as flores molhadas...                          
Ele se foi tão cedo! Não mais segurou em suas mãos os meus medos. Eu continuei crescendo, (frágil, porém), sem poder contar com seu abrigo, aquele em que basta um olhar, para saber do pai que a gente tem.

12 comentários:

  1. Foi uma experiêcia sua poetizando ?
    ou uma poesia fiquei confusa! aqui tinhamos uma pé de canela
    , sua sombra era imensa , eu adorava ele , mas plantamos muito
    perto do canos de esgoto e também da casa, já tinha alcançado
    a fiação elétrica , e não teve jeito se não corta-lo , uma pena
    tenha um bom dia.
    bjs
    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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  2. Adoro abacate!!!
    Essas lembranças que marcam ficam para sempre presentes em nossa mente e no nosso coração.

    bjokas =)

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  3. Lindas, tocantes e bem emocionadas tuas recordações.Adorei! beijos,chica

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  4. Oi Lourdinha,que delicia essa fruta tão saborosa que é o abacate.
    Eu também tenho lembranças de um abacateiro que tínhamos em nossa casa
    Bjs amiga
    Carmen Lúcia..

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  5. Oi Lourdinha
    Penso que quase todos temos um 'pé de abacateiro' para desencadear lembranças boas ou nem tão boas de um tempo que vai lá longe. Meu pai é uma dessas lembranças também, de forma diferente por certo mas sempre lembrança. E vem junto aquela culpa por não ter compreendido mais amado mais abraçado mais. Não fomos grandes amigos _ a vida levou antes que pudéssemos resgatar alguns tropeços,mas fomos felizes do nosso jeito,
    Fiquei melancólica o que tem acontecido mais vezes do que deveria,
    Achei bonito demais o abacateiro em dia de tempestade,
    Obrigada Lourdinha
    deixo muitos abraços

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  6. Oi, Loudinha...as lembranças são nossas maiores riquezas ,principalmente as que nos levam ao sentimento de amor e confiança e nossos pais são o esteio de toda nossa vida e que levamos para sempre.Quando há uma árvore que cresceu junto plantada com amor e que deu frutos! São fatos e sentimentos que valem a pena guardar,Bela lembrança!
    Um abraço

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  7. Oi Lourdinha! Eu acho que entendo bem isso e acho muito importante e bonito você cultivar estes tipos de sentimentos e percepções...
    É a vida, tudo passa, mas devem ficar as lembranças, principalmente as boas..rs

    Abraço

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  8. Há na nostalgia tanta beleza, não é assim?
    Gosto do teu evocador e intimista do post, e claro, que tivesse plantado um abacate :)

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  9. Quanta recordação bonita!
    Há pormenores na nossa vida que, por muitos anos que passem, nunca os esquecemos. Os que são relacionados com o Pai ou com a Mãe ficam para sempre.

    Bom fim de semana
    Beijinhos

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  10. Oi Lu,

    Tocante a nostalgia do seu texto, que, aliás, é lindo de ler.
    Há momentos impagáveis na vida e que, quando afloram, transbordam saudade.

    Beijo.

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  11. Lembranças que nunca se vão e que bendizemos sua existência. Guardam um pouco de alguém tão importante em nossa formação e em nosso jeito de olhar a vida. Bjs.

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  12. Quanta poesia em suas lembranças. Texto maravilhoso!!! Parabéns!!!
    Estou aqui emocionada.

    Beijos

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